Quando percebi minha atração por mulheres, não me pareceu errado, apesar do medo e, do que meu pai iria pensar, nunca foi algo incompreendido. O meu maior receio era de como me relacionaria com mulheres, eu adolescente preta, estava acostumada com os olhares masculinos e com os comentários a respeito da minha possível performance sexual, mas nunca, outra mulher havia se interessado por mim.
Então, quando eu me apaixonei pela primeira menina, nós éramos extremamente próximas, ela uma garota branca, era rodeada de outras meninas e sempre dizia me achar muito bonita, quando eu finamente, tomei coragem para me declarar, ela me disse que gostava muito de mim, mas que não gostava muito de como eu usava o cabelo ( cacheado ) e pediu para que a gente ficasse escondido então, eu com o mínimo de consciência, entendi o quão racista ela estava sendo comigo e me afastei dela. E parece fazer muito tempo, parece um comentário feitos nós anos 90, mas, isso aconteceu, em 2014 , eu tinha, 16 anos na época e, mesmo com características físicas de uma mulher atraente, para uma mulher branca eu não fui.
Sentia que o amor, não era para mim, que amor havia sido feito para mulheres brancas, pois, elas se amavam, a minha paixão platônica da escola, meses depois engatou um relacionamento, com uma menina loira, a qual ela fazia questão de mostrar. Com a minha segurança completamente abalada, um pavor de nunca me relacionar com ninguém, encontrei minha primeira namorada, ela uma mulher branca, tinha várias questões para serem concertadas e eu, me dispus a fazer isso, para poder ser minimamente amada, vivi uma relação abusiva onde o modo de opressão era o racismo.
Depois de anos nesse relacionamento, agora solteira, o medo de nunca mais me relacionar sexualmente com alguém, veio, mas ele passou, hoje vejo que fazer sexo com alguma mulher, não é difícil, mas percebo a falta de afeto e quando ativa nas relações, percebo a falta de interesse em fazer com que eu me sinta parte do momento. Em algumas ocasiões, fui apenas usada para cessar o que a pessoa queria, um fetiche em ambiente de trabalho, mas sempre, com medo de que outras pessoas soubessem, pessoas do convívio dela, chegando ao ponto, dela não me passar o número, de nos falarmos apenas para ter a relação sexual. Sexualização de mulheres pretas, era algo que eu não esperava encontrar no mundo lésbico e, além de sermos usadas para sexo, somos usadas emocionalmente.
Por todas essas questões, a decisão de me relacionar majoritariamente com mulheres negras, me ajudou a entender melhor, como é ter seus sentimentos respeitados, com nenhuma mulher branca que eu me relacionei estava tudo bem quando eu não queria sexo, com todas as mulheres pretas com quem me relacionei, fui extremamente respeitada quando não quis e, além de respeitada, as minhas vontades dentro do sexo, o meu prazer e o fato de que faço parte daquela relação, sempre foi valorizada.
Sei que relações afrocentradas nem sempre são flores, que são duas mulheres cheias de cicatrizes se relacionando e que em alguns momentos elas convergem, mas, isso não quer dizer, que ambas pensam da mesma forma, se comportam e, amam da mesma forma, isso só quer dizer que são duas mulheres negras, que possivelmente se viram negadas ao direito de amar, se amando.
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